SOBRE "ESSA GENTE INCÔMODA"

Um colunista do site "Gospel Prime", Gutierres Siqueira, resolveu ir na contramão do entendimento da MAIORIA e defende a "ironia" do jornalista José Roberto Guzzo em artigo publicado na revista "Veja" (Edição 2550, de 4 de outubro 2017, pp. 78 e 79). 





Confira artigo de Gutierres. Prossigo abaixo.

"O jornalista José Roberto Guzzo, colunista da Revista Veja, escreveu um ótimo texto intitulado “Essa gente incômoda”, onde acusa a elite cultural brasileira de hipocrisia, pois enquanto levanta à bandeira da diversidade, de maneira sorrateira, manifesta forte preconceito contra os evangélicos.

Para a minha surpresa, lamentavelmente, li nas redes sociais que pastores, cantores e até deputados estão reclamando do texto. O pessoal começou a acusar o jornalista daquilo que ele mesmo denuncia. É inacreditável!

Muitos evangélicos simplesmente não entenderam que o colunista usa inúmeras ironias para mostrar o preconceito velado que existe no meio cultural e na elite intelectual contra essa “gente incômoda”. Quem acompanha a coluna do Guzzo sabe que o texto dele sempre é marcado pelo uso da ironia. Ele, inclusive, usa algumas aspas no decorrer do artigo, que é uma marca em qualquer escrito irônico.

É vergonhoso ver que muitos evangélicos não conseguem ler um texto e interpretá-lo com a mínima inteligência. Como esses pastores, cantores e deputados interpretam a Bíblia? Como elaboram sermões? Como diferenciam parábolas de epístolas? Como leem um salmo e um texto apocalíptico?

Ora, se um simples texto em uma revista causa tanta incompreensão, como eles lidam com um texto tão difícil como da Bíblia? Vejo com muita preocupação esse fato, pois mostra a grande deficiência na leitura de muitos evangélicos.

Com alguma frequência eu também uso ironias nos meus textos, mas, como aconteceu com o Guzzo, infelizmente, sempre aparece alguém me acusando disso e daquilo.

É impressionante a dificuldade com uma simples figura retórica. Muitas pessoas, também, só leem os títulos e já começam a ofertar suas extensas opiniões sobre o assunto. Outros, igualmente preguiçosos, vão apenas reproduzindo a opinião de outra pessoa famosa sem procurar a fonte… Tudo isso é grave, logo porque a nossa pregação, meditação e doutrina dependem de um texto que, se mal interpretado, pode causar sérios prejuízos."


A interpretação do objetivo irônico é uma possibilidade. Entretanto, o autor não tomou os devidos cuidados para que este recurso literário ficasse claro quanto a quem, de fato, quer criticar. Se aos da "fé evangélica" ou aqueles que são mencionados, sem aspas como, "esclarecidos, liberais, intelectuais, modernos, politizados, sofisticados". Se a ironia motivou o discurso, o autor só foi irônico de modo aberto com os da "fé evangélica". 

Sem qualquer ressalva, Guzzo escreve: "É um desapontamento, sem dúvida — e as cabeças corretas deste país ficam impacientes com a frustração de ver os cultos evangélicos crescendo, enquanto em Nova York e no resto do mundo bem-sucedido as pessoas vão a concertos de orquestras sinfônicas e não admitem a circulação de preconceitos." Onde está a IRONIA, aqui? 

A diagramação da revista impressa preferiu destacar o seguinte trecho: "Há muita indignação, também, com a escroqueria aberta, comprovada e impune que é praticada há anos em tantos cultos evangélicos espalhados pelo Brasil afora." Ou seja, um "olho" que em NADA argumente pela "ironia". 

Ao falar da picaretagem de ALGUNS Guzzo conclui que: "São o joio no meio do trigo, e há tanto joio nas igrejas evangélicas que fica difícil, muitas vezes, achar o trigo." A forma como se refere deixa o entendimento de que a ESMAGADORA maioria não vale nada. Ou seja, rotula o todo por ínfima parte de pilantras religiosos e lança na vala comum tantos outros que a despeito das maças podres na caixa, procuram conservar os padrões de conduta conforma a sã doutrina.

O autor conclui: "Em todo caso, para quem não gosta dessas realidades, é bom saber que os evangélicos, muito provavelmente, são um problema sem solução." Ora, se queria ser irônico, o "problema" deveria vir entre aspas (só para mencionar o recurso que alegam ser usado pelo autor para marcar sua ironia).

Há quem defenda que em matéria de literatura, o autor só é responsável pelo que ele diz e, não, pelo que interpretam. Entretanto, há controvérsias nisso. Pois, se a interpretação é difusa, o autor pode, sim, ter falhado em sua comunicação. Se o assunto foge do âmbito da ficção e aborda questões reais que podem ferir (como este artigo feriu), o escritor tem, sim, o dever de tomar cuidado com a expressão de suas ideias tanto no que ficou explícito quanto no que está implícito, ou seja, nas entrelinhas.




Link do texto no site Gospel Prime
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